quarta-feira, 7 de junho de 2017

Olavo de Carvalho em nova perspectiva

Ontem fui assistir pela segunda vez ao filme sobre Olavo de Carvalho. E, por incrível que pareça, gostei mais dessa vez. Não sei se é pelo fato de ter estado menos ansiosa do que há uma semana, quando fui à pré-estreia, até porque é normal ficarmos cheios de expectativa com um filme que estamos aguardando há meses, o que pode, em certa medida, tirar o nosso foco do conteúdo da obra.
A questão é que o filme - ou melhor dizendo, o documentário - mexeu comigo de forma mais patente, a ponto de me emocionar. Com leniência e serenidade no olhar, o protagonista abre as portas de sua casa em Virgínia para revelar e contar um pouco sobre o universo de seus pensamentos e reflexões tão singulares, que variam desde uma concepção filosófico-política a uma perspectiva espiritual que abarca o aspecto religioso, e a sua percepção sobre viver com os pés no chão, em meio à natureza, em meio ao real e transcendental. 
Se tem uma coisa, aliás, que Olavo de Carvalho preza é por isto: pela realidade e pelos fatos como eles são. É pelo amor à verdade, pela devoção ao conhecimento e à origem das ideias que o professor trilha seu caminho tão astuta e brilhantemente. Eloquente, autêntico e inspirador, Carvalho nos prova, sem querer, o quanto faz de seu trabalho (que mais parece um lazer, diga-se de passagem) uno com sua vida familiar: a dedicação e o seu envolvimento profissional intenso é o mesmo com que olha e acolhe os seus, seja em um momento descontraído na sala de TV com seus netinhos, ou durante as refeições familiares, cujo espírito de união e fraternidade é sentido sem muitos esforços.
Antonin Sertillanges, teólogo francês e um dos autores que mais instigou o filósofo na busca de um propósito, afirmara que a atividade laboral é parte intrínseca do autodesenvolvimento e da satisfação pessoal. Pelo visto, Olavo de Carvalho não só entendeu a mensagem proferida por Sertillanges, como também tem sido fiel a ela até hoje. E sabem por quê? Porque ele encontrou um sentido em sua vida e constatou que tudo estava interligado. Afinal de contas, a verdadeira maturidade intelectual culmina em uma vida pessoal mais sólida e consistente, a despeito de quaisquer problemas que possam existir.
Para mim, a importância da maturidade intelectual é melhor retratada quando, em uma passagem do filme, o escritor afirma que somos obrigados a escolher entre viver o fútil ou viver algo maior que a própria vida. Ou seja, dentre as várias possibilidades que nos são oferecidas diariamente, o que queremos experienciar? O que é relevante vivenciar de fato? Como e de que forma queremos viver? Viver na superfície a na aparência das coisas, ou viver aceitando os riscos de uma jornada cujo fio condutor é o amor a Deus e, portanto, ao autoconhecimento?
O filósofo fala tanto em prestar atenção nas ideias, e não nas pessoas que as pronunciam, que deve ser por isso que o filme tem como foco não a sua história, mas as coisas que diz. Porém, é inevitável perceber que as ideias de uma pessoa mostram muito quem ela é. Revelam valores, crenças, modo de vida e, sobretudo, modo de ser. E, você, Olavo de Carvalho, querendo ou não, já nos ensinou muito sobre a vida - sobrepujou a vulgaridade do senso-comum, todo tipo de estereótipo e percepção limitada. Você não é meramente um grande filósofo, é também uma pessoa apaixonante e exemplar para todos aqueles que procuram viver de maneira profunda e livre.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Relativização e Preconceito

Hoje em dia, percebo o quanto o relativismo pode ser perigoso e nocivo à sociedade. É verdade que algumas coisas são relativas e estão ligadas a um gosto pessoal, como gostar de um certo tipo de música. Mas, isso não significa de forma alguma que, dada uma certa preferência a um estilo musical, seja possível afirmar que este seja superior a outro tipo. Agir assim é "pensar" com emoção, é ser passional. 
Dizer que uma música clássica ou uma ópera sejam superiores a uma música popular não é e nem deve ser algo relativo. Além de uma maior complexidade na composição da música clássica, ela possui uma estrutura que compreende o aspecto discursivo como imprescindível à sua apreciação total. Diferentemente da música popular, é necessário prezar por cada detalhe na música clássica para a compreensão e captação desse elemento discursivo, tal como assistir um filme, com começo, meio e fim.
Entretanto, é exatamente o contrário que está acontecendo no Brasil: ao invés de uma análise embasada no conhecimento sobre as várias questões que norteiam nosso dia-a-dia e nossa necessidade de criar reflexões a partir disso, estamos, na verdade, vestindo ares de ignorância com tanto orgulho que acabamos subvertendo toda a racionalidade e a beleza que advém de amplas investigações, estudos e pesquisas sobre um determinado assunto ou tema.
Hoje, por exemplo, você é facilmente tachado de preconceituoso por qualquer coisa que diga ou discorde. Classificar de forma tão irracional e emocional é o novo padrão dos ditos intelectuais, daqueles mesmos que falam tanto em democracia e pluralidade de opiniões - desde que você não contrarie as deles, é claro.
Precisamos, urgentemente, parar com esta estupidez e burrice. Ter critérios e conhecimento é o primeiro passo para saber discernir o achismo do fato. É com critério e conhecimento que conseguimos, minimamente, fazer uma análise justa e coerente sobre as coisas.
Em suma, quem não se permite aplicar e estudar para se desenvolver e ser uma pessoa melhor, vai sempre confundir opinião pessoal com a realidade como ela é - vai ser sempre o que vai tachar de preconceituoso aquele que diz que música clássica é superior a um forró.