terça-feira, 29 de março de 2016

Relações Portaria x Solo de Guitarra

Sinto muito em dizer, pois eu sinto em saber que está faltando um solo de guitarra em nossas vidas.
Isso mesmo: um solo de guitarra. Um solo de guitarra é um momento intenso e singelo, em que nossas emoçōes, sentimentos e pensamentos estão à flor da pele - nós nos debulhamos em lágrimas e vivemos, intensamente, absortos naquela melodia musical.
E, sim, estamos sóbrios. Não estamos bêbados, não estamos procurando uma válvula de escape. Simplesmente queremos viver o momento, ao vivo e a cores; lúcida e verdadeiramente. O que sinto, porém, é a ascensāo desenfreada do que eu chamo de "relações portaria".
As "relações portaria" são as relações efêmeras que desenvolvemos com as pessoas, de forma cada vez mais frequente e abundante. Não temos mais tempo para fazer visitas e apreciar o cafezinho fresquinho sendo jorrado naquela xícara especial para o convidado da tarde. Não. Hoje mandamos o recado pelo porteiro ou, simplesmente, passamos na portaria e deixamos nossa "lembrancinha de aniversário", nossa "presença enrustida".
Pois a Presença (com P maiúsculo), sinto dizer, é algo envolvente, algo quente. É o olho-no-olho, é o abraço apertado, os beijos de saudade e a manifestação do corpo, da alma e do espírito ao vivo, aqui e agora. Eu sinto falta da Presença, embora esteja começando a entender que na maior parte de meu tempo estive ausente em muitas coisas. E hoje, estou plena, estou Presente na minha vida.
Peço, de verdade, que se permitam ouvir um solo de guitarra. É fascinante! Eu ouvi muito - e ainda ouço - e continuarei ouvindo por muito, muito tempo. É um amor de alma. É de coração. Eu espero que não seja tarde demais para começarmos a mudar este paradigma insosso e superficial no qual estamos, tristemente, inseridos.
Que não seja tarde demais para descobrirmos que podemos ser muito mais do que servidores do comportamento ausente, egoísta e frágil de nossos tempos modernos "globalizantes". Que consigamos transpor as barreiras limitantes do medo, da insegurança e da falta e construamos relações de amor, de afeto, de carinho e não relações portaria ou porcaria, se assim posso dizer.