quinta-feira, 28 de maio de 2015

Entrelinhas

- O que você quer da vida, menina?
- Eu? Bem, eu quero apenas uma coisa...
- O que?
- Eu mesma.

Sim. Essas foram as palavras da garota, cujo nome não tem muita importância neste instante... porque ela falava com todos e para todos. Ela gostava muito dos pequenos detalhes da vida: ela inspirava a respiração aconchegante que seu anjo da guarda lhe proporcionava. Ah, como era bom apreciar minuto-a-minuto seu dia, pois suas tardes, regadas de imaginação e plenitude, a faziam preencher as páginas de sua história com todas as sete cores do arco-íris.

E ela se sentia cada vez mais viva e pró-ativa. Reconstituir a esperança que se vai a cada choro amargurado pela falta de amor. Ela não se dava por vencido, não dava o braço a torcer, pois percebia que a vida era tão imensa, intensa e cheia de si mesma, que a felicidade nada mais era do que um encontro com nossa instância superior: Deus.

Quando falava de Deus, falava de uma força interna. Algo misterioso, místico, encantador e transcendente. O elo com a divindade era eterno, sábio e silencioso - já que o trabalho maior era realizado internamente, dentro de cada um, na busca do aprimoramento de nossa essência e consciência.

Por isso, a guria, tão ansiosa e cheia de luz, sentia-se feliz, porque estava, finalmente, entendendo que a felicidade é um processo em eterna construção. E, por isso, ela transcende a morte.


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Minha vizinha é um mistério

Minha vizinha, do prédio da frente, é um mistério. A janela do meu banheiro dá de frente para um prédio velho e largo. No sexto andar deste prédio encontro a mulher enigmática - todas as noites, invariavelmente, sempre a vejo passando de um lado para o outro. Aparentemente, ela veste um avental branco e seus cabelos, sempre presos. 
E agora você deve estar se perguntando "tá, mas e daí???" Muitas pessoas têm hábitos em horários específicos do dia, etc. Mas a questão é: aquela janela, pequenininha, que avisto do meu toilete, está sempre, SEMPRE, aberta. E o mais esquisito é que as luzes também estão sempre acesas - até mesmo de madrugada. E é justamente isto que me assusta. A vizinha anda para lá e para cá de madrugada. Sim. De madrugada. Eu, que tenho o costume de dormir tarde e, por vezes, acordar pela madrugada, já me deparei com essa cena milhões de vezes. Às quatro da matina, ela está ali, como se fosse um espírito vagando por um quarto. E a janela semi-aberta até mesmo nos dias de frio.
Confesso que vivo caçando perguntas que me dão coceira na cabeça. Pode ser falta do que fazer, sim. Falta do que pensar... ou até mesmo excesso de pensamento que tenho. Na verdade, sempre pensei muito até não conseguir respirar mais e apelar para minhas orações. Mas é justamente essa falta de leveza na minha mente que me faz reparar em coisas um tanto banais, pois só assim posso me distrair um pouco. 
E como diria a escritora deste blog, "quem muito vive sufocado acaba se embrulhando em um papel, com um lápis e uma borracha".