quinta-feira, 6 de março de 2014

O tempo pautando os pauteiros

Por Juliana Taouil

But time, keeps flowing like a river (on and on)
To the sea, to the sea

"Mas o tempo sempre flui como um rio (sem parar). Para o mar, para o mar". Esse é um trecho da música Time da banda de rock progressivo inglesa The Alan Parsons Project. E, talvez, esses versos nunca fizeram tanto sentido quanto agora, em nossas sociedades hodiernas: o tempo, cada vez mais, escorre de nossas mãos em uma velocidade tão estupenda que, se não o agarrarmos com imediatismo e, ao mesmo tempo, com intensidade, ele se vai em um piscar de olhos.
É sobre este caráter efêmero do tempo que Vicente Romano Garcia, doutor em Comunicação Social pela Universidade de Münster, discorre em seu texto Ordem Cultural e Ordem Natural do Tempo. Segundo Garcia, vivemos um verdadeiro paradoxo vigente já no século passado. Se antes dispúnhamos de extensas e longas horas para trabalhar para o patrão, cujo tempo ocioso era notoriamente pífio, no mundo atual, por outro lado, dispomos de uma carga horária de trabalho muito mais enxuta, mas não menos sufocante, pois, apesar de hoje termos mais tempo "livre" para realizarmos outras atividades, essas acabam sendo pautadas pelo tik tak do relógio que, cada vez mais, nos mecanizam, sob a ordem social do tempo.
Ficamos, dessa maneira, extremamente dependentes de artefatos mediadores de tempo, - nossas vidas, mais do que nunca, jamais lograram postura mais submissa às novas mídias sociais como a Internet, para citar um exemplo. O desenvolvimento e incremento dos meios de comunicação se fazem intrínsecos ao processo de aceleração do tempo, como comentou o autor, "Na sociedade da alta velocidade o tempo mesmo se converte em objeto de aceleração" (GARCÍA, 2002). Por isso, como explicou o espanhol, estamos sujeitos à uma sobreposição de tarefas, como consequência desse tempo devorante e, não menos, devorador dos homens.
O ofício de Jornalista, aliás, é um exemplo ilustrativo desse novo panorama social e cultural do tempo: se há vinte anos ainda predominavam as mídias impressas e tradicionais como os jornais, hoje em dia, com o advento da Internet, os jornalistas tiveram de se adequar às rápidas velocidades inerentes a essas plataformas virtuais, cujas características centrais são a disseminação de conteúdos online e em tempo real. Assim, os mediadores de nossos tempos, vulgo jornalistas, se viram obrigados a propalar e a divulgar notícias nas "telinhas" dos monitores no menor tempo possível.
Essa condição imposta a esses profissionais gerou, no entanto, em resultados não muito positivos. Afinal, o jornalista (típico dos jornais), acostumado à produção de notícias de forma mais paulatina do que aquelas inseridas no portal virtual, teve de agilizar seu trabalho, bem como a apuração dos fatos a fim de inteirar o espectador sobre as últimas e mais frescas novidades do dia. E esse novo fazer jornalístico, de certa forma, é muito mais suscetível aos erros de apuração, - devido à pressa e ao curto período de tempo de propagar a notícia pronta à tona -, e cujo caráter perecível acaba sendo recorrente, na maior parte das vezes, da abordagem superficial que é dada à matéria típica da Internet.
Portanto, o tempo acaba sendo fator primordial e o ponto-chave de nossas vidas e cuja força pode ser visivelmente notada em áreas como a do Jornalismo: somos, em um ritmo abrangentemente asfixiante, tomados pelo tempo que, cada vez mais, nos obriga a realizar um número grande de atividades diárias no menor intervalo estipulado. Tornamo-nos, finalmente, escravos de nosso próprio tempo quando, na verdade, deveríamos nos emancipar de seu caráter impositivo e uniforme.
Vale, então, a reflexão decorrente desses novos processos socioculturais e socioespaciais que vêm alterando as percepções humanas sobre o tempo e sua própria condição de existência: como atrelar, bem como propõe Garcia, de forma saudável o tempo do relógio a nossas vidas, sem nos sentirmos prisioneiros dele? Ainda fazendo alusão à profissão de jornalista, e a Carlos Alberto Di Franco em seu artigo Jornal, Qualidade e Relevância publicado em 03/03/14 no Estadão, "O jornalismo impresso deve ser feito para um público de paladar fino e ser importante pelo que conta e pela forma como conta. A narração é cada vez mais importante." Assim como a narração é importante, tão mais relevante seria se aproveitássemos o tempo que temos em sua totalidade e intensidade,  não nos servindo como míseros seres correndo apenas contra ele, mas, sim, indivíduos que narram suas histórias através dos tempos.

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