sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Delitos de uma fã

Há uns quinze dias comecei a ler um livro muito importante em minha vida. É relativo à minha banda favorita, Scorpions. Nunca sabemos até que ponto conhecemos aqueles que nos inspiram, nos faz sonhar, voar mundo afora. Só sei que, por incrível que pareça e por mais óbvio que seja, nunca sabemos demais. A leitura é algo muito além do que possamos desfrutar, é um modo de vivenciar aquelas experiências proporcionadas em suas páginas. E eu, a tola e quase tão ingênua em muitos aspectos, mergulhei naquele universo que até então desconhecia: Scorpions - minha história em uma das maiores bandas de todos os tempos.
Herman Rarebell, baterista dos tempos clássicos do grupo, foi aquém e além de sua história com os músicos alemães. O ex-integrante conta, ora direta ou por entrelinhas, tudo que sentia durante a época com a maior banda de hard rock da Alemanha. Sua infância, seu interesse pela bateria, seus anos de juventude, seu trabalho como lavador de pratos em pubs ingleses, seu envolvimento com as drogas, seus relacionamentos amorosos, são tópicos abordados nas trezentas páginas do livro, em maior ou menor proporção. O que, talvez, tenha mais me chamado a atenção, durante a leitura, foi a maneira com a qual o alemão conduziu sua história, com muito humor e sabedoria. Herman "Ze German", como é conhecido (Herman, O Alemão), não só me propiciou momentos engraçadíssimos, fazendo alusões a coisas totalmente fora de contexto, mas também ampliou minha visão sobre a banda. É natural que os fãs, de maneira geral, idealizem seus ídolos e sacralizem suas imagens, no entanto, é muito interessante notar como são as coisas por um outro lado, sob uma outra órbita. Estou falando das minhas experiências adquiridas sobre os escorpiões, a partir de uma leitura singular do ponto de vista de um dos membros que contribuiu para o sucesso da banda. Sim. Minha imagem sobre o Scorpions tornou-se mais vasta - primeiro porque a leitura de um livro é muito mais profunda do que simplesmente ler um resumo pela internet, e segundo por se tratar de uma visão de um dos músicos que algum dia já fez parte daquele conjunto.
Rarebell conseguiu me atrair pela veracidade que julgo estar embutida naquelas folhas: diferentemente de outras autobiografias, esta é totalmente acronológica, despadronizada. A saber, o baterista começou escrevendo sobre o sucesso de um dos maiores hits do grupo: Wind Of Change. Contou, logo no primeiro capítulo, como se sentiu perante aos milhares de russos que nunca tivera visto antes, como foi ser parte da primeira banda Ocidental a pisar na antiga União Soviética. Descreveu, de maneira ímpar, o encontro do Scorpions com Mikhail Gorbatchev, afirmando ser este um dos maiores líderes políticos da história, não só por sua evidente inteligência, mas pelo ser formidável que tinha conhecido e trocado tantas risadas.
Herman "Ze German" trouxe tantas informações novas para mim, que além de me proporcionar grandes momentos de deliciamento, dúvidas dessas mesmas informações pairaram em minha cabeça. Agora, eu me pergunto: é verdade que normalmente tanto os bateristas quanto os baixistas trabalham na "cozinha" da casa, e por causa disso, às vezes esses músicos não recebem os devidos créditos em seu trabalho. Mas, como explicar a maneira como Rarebell saiu da banda e suas constantes afirmações ao longo do livro, dizendo que ama os outros integrantes como irmãos? O que, basicamente me deixou em dúvida foi talvez esta ideia paradoxal mostrada implicita ou explicitamente em seus dizeres. O baterista, que afirma ter saído da banda por não gostar das novas músicas feitas e da desproporção em relação às "fatias da torta", revelando que merecia mais dinheiro do que recebia, declara um amor incondicional por Klaus Meine, Rudolf Schenker e Matthias Jabs. Como se explica isso? Me pareceu tão contraditório o penúltimo capítulo do livro, que me vejo não só como uma fã, mas como uma pessoa que deseja conhecer a verdade e a clareza de algumas questões.
A pergunta que não quer calar é totalmente pessoal e inerente às pessoas que tiveram a oportunidade de ler o livro e tirar suas próprias conclusões. Agora, o que certamente faz com que a leitura valha a pena é a fome por mais versões e conhecimento. Herman Rarebell pode ter tido maravilhosos e frustrantes momentos em sua carreira, mas como ele mesmo diz, "o que me levou a escrever um livro com ironia era a garantia de que, ao final, todos se divertiriam e compreenderiam o espírito da minha vida como um Scorpion". E é por entre dúvidas e certezas, que trilho uma história que não mais me faz enxergar como escrevo, mas porque estou escrevendo.

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