domingo, 22 de abril de 2012

Nascer, nascente: o pôr do frio

Manhãzinha de forte frio em um domingo, ficara a pensar em seu cantinho permeado de pensamentos sob cobertas quentes, quentíssimas. Estava frio hoje, o vento rajava sem pedir. Naquele quartinho, reconhecera sua capacidade, e um certo dom para escrever em um dia frio; só ela sabia que o contorno das palavras a esquentava com tamanha força como os feixes de luz arco-irisados que se exibem na passagem inocente e  na quase rara aparição simultânea da chuva e do sol. Seu talento era despercebido por ela mesma - talvez devesse prestar mais atenção na luz do sol, que penetrava sob sua pálida pele, aparentemente incolor. Precisava se sujar mais, cheirar a lama do sapato velho que talvez nem teria hoje. Mas também, não gostava de salto alto. Sempre apreciara o meio-termo dos desenrolares cotidianos que aderiam a sua vida de menina velha. Almejava viver livremente, sem a ditadura imposta pelas comunidades ordinárias de seu tempo, que se manifestava em ondas de modinhas atreladas à falsa  idealização aparente da garotinha e do garotinho eróticos. Os palhaços surgiram, mas diferentemente dos verdadeiros gozadores da vida, os nossos são feitos de pinceladas superficiais da felicidade.

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