quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

M.A.M: O embarque no escuro

M.A.M: O embarque no escuro
Na escuridão de uma sala, revela-se a importância do diálogo no meio artístico

O Museu de Arte Moderna (M.A.M) abriu suas portas para mais uma de suas grandes exposições: o 32º Panorama de Arte Brasileira sob o tema Itinerários, Itinerâncias. A exposição, que teve início no dia 20 de outubro do ano passado, alojou várias obras modernas, as quais chamaram a atenção do público, por suas características diversas, assim mesmo como a possibilidade de livre interpretação daquelas.
Dentre as inúmeras obras que ali estão, uma chamou atenção: o salão escuro. Ao entrar por aquela sala escura, desprovida de qualquer material ou objeto, duas mulheres emergem de uma tela, falando uma com a outra. A sensação que se tem, ao entrar na sala, é que ambas as mulheres são reais e parecem estar conversando com o público. De fato, estão. As mulheres, entretanto, estão ensaiando uma encenação ou peça teatral que farão. E para isso, ambas dialogam o tempo todo e seguram em suas mãos um roteiro, representando e simbolizando suas respectivas falas.
A cena descrita remete à arte em movimento: a sensação de ouvir e ser ouvido. Sentir e ser tocado. Valorizar o diálogo dentro da arte, - algo que está em falta nos dias atuais. O diálogo faz a arte, e a arte faz do diálogo instrumento imprescindível para maior abrangência de opiniões, observações, conversas recíprocas, compreensão maior. Articulação enquanto forma de associação de diversos fenômenos e a interdependência coexistente entre eles. A arte e o diálogo se fazem, dessa forma, inseparáveis em seu curso enquanto recursos comunicativos.
Assim como o representam as duas mulheres da tela, a fala é fator de extrema relevância para expressar-se. Contestar, criticar, relevar e certamente admirar o conteúdo artístico de uma determinada obra de arte, que não apresenta, necessariamente, beleza estética ou aparente.
A arte, ao contrário, procura desenvolver uma obra, que independentemente de seu caráter estético, contenha um valor de essência, de importância, de profundidade dentro de si. Que seja suscetível e sensível às inúmeras interpretações, pensamentos, que, aliados ao diálogo, tornam-se objetos mais enriquecedores, polêmicos, vívidos sob o olhar de cada pessoa.
A obra de arte como forma de diálogo, e revelada explicitamente pelas duas mulheres da tela na sala escura, revela outra questão: a crescente perda de diálogo entre os cidadãos. A falta de conversa entre as pessoas acarreta em visões unilaterais, formas de pensamento, que muitas vezes, são previamente estabelecidas, traçando e moldando o comportamento cada vez mais individualista de cada um dentro da sociedade.
O valor da arte consiste, ao invés disso, justamente na pluralidade de pensamentos e trocas de opiniões proporcionadas pelo diálogo. A visão de uma respectiva pessoa não deixará de ser valorizada: ela apenas se aprimorará com novas idéias propiciadas por diferentes indivíduos. A obra de arte, conseqüentemente, estará repleta de significado, a partir de formas dialogais que lhe fornecerão sentido.
A variedade de obras de arte que existem hoje não são poucas: elas estão por todos os lugares, vistas por todos os tipos de pessoas, sob diferentes ângulos. A pluralidade de opiniões e visões torna-se, portanto, cada vez mais pertinente em um mundo cada vez mais globalizado, no qual o diálogo torna-se indispensável à obra de arte e vice-versa.

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